"-Voar- disse ele,divertido.- Como é isso possível?
- Senta-te e fecha os olhos- disse Maya com um ar serio que punha de lado qualquer hipótese de brincadeira.- Arranja uma posição confortável. Fica em silencio, descontrai-te...
O Jorge ia obedecendo. Não só começava a acreditar que podia mesmo voar como começava a ter medo que isso acontecesse.
-Voou sozinho?- disse ele.- Disseste que ias voar comigo. Eu preferia... É a minha primeira vez.
- Quem me dera- respondeu a Maya.- Mas tenho de ler o livro. Se o acabar a tempo, ainda vou ter contigo. Mas não tenhas medo. Vais gostar. Agora repete comigo: "Onde há luz eterna. no mundo onde o Sol está, naquele mundo imortal, imperecível, onde os desejos do nosso desejo são realizados. coloca-me, ó Soma. Onde a vida é livre, no terceiro céu dos céus, onde os mundos são radiantes, lá faz-me imortal".
O Jorge repetiu tudo, direitinho, de olhos fechados. Ficara de repente com uma expressão ausente, relaxada, como se tivesse caído num torpor ou num daqueles sonhos leves.
- Agora voa- disse Maya muito naturalmente, como se se tratasse da coisa mais vulgar do mundo.
Depois, puxou para si o Livro Fechado, fechou os olhos e voltou a tactear delicadamente as rugas e texturas da pedra.
Nessa altura já o Jorge atravessava as paredes do túmulo e voava nos céus da cidade.
-Estou a voar.Como posso- disse ele para ninguém."
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